Pesquisa de Satisfação

Em muitos locais, somos abordados pela famosa pesquisa de satisfação. Seja sobre um serviço prestado ou uma refeição consumida, os fornecedores precisam muito saber o que nós, consumidores, temos a dizer sobre esses “produtos”. O intuito é, pelo menos na teoria, melhorar a qualidade, mensurar opiniões, críticas e comentários.

Confesso que minha paciência para responder a essas pesquisas é pequena. Sou daquelas que sai marcando desesperadamente as opções, em atitudes muitas vezes baseadas em pouca reflexão e que me geram, poucos segundos depois, um sentimento de remorso por ter dado um quatro quando, no fundo, sinto que deveria ter dado um cinco. Ou seis. Mas vida que segue.

O fato é que, em uma viagem recente, precisei fazer uma conexão Rio-SP. Desembarquei do primeiro avião, fui ao famigerado e aguardado banheiro, entrei na fila para o próximo voo e senti o celular vibrar. Tratava-se de uma mensagem da companhia aérea, a qual, segundo ela, “queria saber a minha opinião” sobre o voo. Eu deveria responder, gratuitamente, de 0 a 10.

Fiquei em “estado de choque”. Primeiro, pela rapidez da abordagem; segundo, pela típica reação daqueles que sofrem as dúvidas cruéis das encruzilhadas. Viajar de avião não aparece na lista dos meus afazeres favoritos – não está nem no Top 20. Sendo assim, o simples fato de chegar ao meu destino (leia-se: o avião não ter caído) já simboliza, para mim, uma satisfação incomensurável. Logo, respondi à mensagem: 10.

No destino, após o segundo voo, uma nova mensagem chegou, com a mesma pesquisa. Dessa vez, já me considerando perita nesse quesito, senti a coragem dos que têm algo a reclamar e comentei comigo mesma: “Este pouso foi mais desajeitado que o primeiro.”. Sem pestanejar e com a audácia dos que se esquecem do fator “cheguei com vida, é o que importa”, enviei a nota: 8.

Passei toda a viagem refletindo sobre essa pesquisa – e me arrependendo desse 8 (o mesmo remorso relatado no início deste texto). Sim, ainda considero chegar viva após uma viagem de 50 minutos de avião o fator mais importante. O problema é que isso se torna secundário à medida que vamos vivendo, e passamos a focar a água que não estava tão gelada, o biscoitinho – quando ele existe – que estava sem gosto, a turbulência que não foi evitada pelo piloto. Há uma mudança de prioridade, muitas vezes para aspectos irrelevantes – e materialistas – do dia a dia.

Percebi, porém, que eu não queria mudar a minha. Na viagem de volta, veio apenas uma pesquisa. Não pestanejei. Um 10 à companhia. Um 10 ao piloto. Um 10 à vida.

autor-paloma-fiz-o-que-pude

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